Parece estar provado que a família de Camões era sem dúvida a mesma que construiu e habitou a casa de Vilar de Nantes. É provável até que o poeta tenha passado algumas temporadas aí, bebendo a água da serra, ouvindo os pardais nos carvalhais, debaixo de uma cerejeira enquanto compunha um soneto de amor.
Pois a casa, embora pequena para os nossos olhos actuais, habituados a edifícios enormes repletos de pequenas caixas onde vivemos entalados entre os móveis, era, há quatrocentos anos atrás, bastante confortável. Visitem-se as aldeias em redor e deite-se uma olhada às casas de granito com pouco mais de cinquenta anos que as constituem: pequenas, de uma a duas divisões e o curral por baixo onde conviviam os porcos, a burra e uma ou duas cabras leiteiras.
A casa dos Camões, a quem a visitar, mostra uma data na ombreira da porta principal: 1574. Não se sabe se é a data de construção, se é a data de restauração. Propomos a segunda hipótese, uma vez que era costume entre fidalgos (e os Camões eram gente fidalga) a reconstrução das habitações quando aumentava a família ou quando a casa estava em vias de ruir. A casa tem o rés-do-chão e o primeiro andar. No rés-do-chão guardavam-se as cavalgaduras, os porcos e as cabras. Para isso não faltava espaço. No primeiro andar temos uma varanda com o desenho típico da região e umas quantas divisões separadas por tabiques de madeira e gesso. Havia ainda uma outra parte da casa, e que ruiu recentemente, que tinha mais algumas divisões, provavelmente quartos de dormir em cima e em baixo a tulha do cereal.
Alguns perguntar-se-ão como poderia uma família de gente fidalga viver numa casa assim. E a resposta já foi dada acima: as casa dos nossos avós, onde ainda hoje vivem, não são melhores. São, aliás, muito mais pequenas e menos confortáveis.