A freguesia da Moita e a sua História
O topónimo Moita tem derivação directa do arbusto “moita”, abundante na região, o qual ainda hoje predomina no ecossistema envolvente dominado pelo pinheiro bravo.
Os primeiros habitantes da Moita ter-se-ão fixado no reinado de D. Dinis (1279 – 1325), por deslocação dos primeiros povos que se fixaram na região quando da sementeira do Pinhal do Rei.
A aldeia da Moita terá nascido por volta do ano de 1500 e constituía uma Vintena da qual faziam parte lugares como a Ordem e Pica Sinos. A Vintena da Mouta no ano de 1588 revestia-se de um progresso notável e integrava lugares como a Ordem e Pica Sinos e os anónimos e inexpressivos ”outros casaes adjacentes,” segundo documentos de finais do século XVI.
Em 1712 na Corografia do Padre Carvalho da Costa, a Vintena da Marinha não apresentava o crescimento esperado em relação ao censo de 1527,embora a tendência fosse nítida de crescimento contínuo, em virtude de “alguns lugares estarem agora agregados a uma nova divisão administrativa representada pela Vintena da Mouta, apesar disso incorporadas na Paróquia da Marinha, como o lugar da Ordem e Pica Sinos” .Refere ainda que na Mouta existia uma ermida a São Silvestre.
Também segundo notícias enviadas em 1721 pelo Provedor da Comarca de Leiria , Brás Raposo da Fonseca à Academia Real:”A Vintena da Mouta está a Sul, tem esta aldea 18 vezinhos, e nella há huma Capella de São Silvestre. O lugar de Martingança ao nascente com 13 vezinhos; o lugar de Pica Sinos à mesma parte com 13 vezinhos. O lugar da Ordem ao norte com 13 vezinhos. O Lugar do Torneiro ao poente com 4 vezinhos.”
Ao que se sabe tratava-se de uma vintena com eleitores com capacidade económica e pagamento de contribuições à Coroa, gozando do estatuto de vintena administrativa desde o século XVI, que se pode considerar ao nível do estatuto dado actualmente às freguesias, o qual acabou por perder a meados do século XVIII.
A partir daí, atendendo à sua situação geográfica e ao facto de se encontrar na fronteira entre o bispado de Leiria e a área do domínio dos Monges de Cister passou a pertencer à Junta da Paróquia de Pataias do concelho de Alcobaça, apesar da proximidade da freguesia da Marinha Grande, do concelho de Leiria. Este facto comprova-se em “ As Memórias paroquiais de Pataias”, de 1758 que mencionam:”o lugar da Mouta como o quinto casal da Junta da Paróquia de Pataias com cinquenta e um vezinhos e uma ermida a S. Silvestre, sujeita ao Episcopado da cidade de Leiria, e dista da freguesia uma légua ”.
Nessa época com a implantação da indústria vidreira na Marinha (1748), havia muita oferta de trabalho e foi aí que muitos moitenses encontraram o seu meio de sustento, trabalhando quer na construção civil, como pedreiros e carpinteiros na edificação da Real Fábrica e nas casas dos seus trabalhadores, quer como carreteiros (ou carreiros), fazendo o transporte da madeira do Pinhal do Rei para a fábrica com carros de bois.
No início do século XIX com as invasões francesas e as destruições que causaram na Marinha, a população moitense viveu um período em que se dedicou mais à agricultura, cultivando tudo o que necessitava para a sua subsistência. A segunda metade do século trouxe novo impulso, com a criação de novas fábricas de vidro, tijolo e telha, com a abertura das primeiras estradas, com a criação da linha férrea do Oeste e o aparecimento das primeiras máquinas a vapor. As novas tecnologias vieram permitir maior evolução e conduziram à criação de fábricas de produtos resinosos, serrações mecânicas e outras, que originaram mais emprego e levaram à fixação de pessoas no lugar da Moita, que procuravam oportunidades de trabalho na Marinha Grande.
O Tenente-Coronel de Engenharia, Frederico Luiz Guilherme de Wernhagem, Administrador Geral das Matas do Reino, pessoa influente junto da Corte, levou ao conhecimento da Rainha a grandeza da freguesia da Marinha Grande e as perspectivas do seu futuro desenvolvimento, sugerindo que, por esse facto, havia grande necessidade de a elevar à categoria de concelho.
Em 1836 a Rainha D. Maria II efectuou uma visita de três dias à Real Fábrica da Marinha Grande, tendo constatado a importância e o elevado grau de crescimento económico da freguesia.
A decisão não se fez esperar: em 6 de Novembro de 1836 foi publicado no Diário do Governo nº283, o Despacho que formava o novo concelho da Marinha Grande de que faziam parte as seguintes freguesias: Marinha Grande, Vieira de Leiria, Carvide, Monte Real, Maceira e o Lugar da Moita desanexado de Pataias (ver Legislação Portuguesa, Colecções de Leis, Decretos e Providências Regulamentares, de 1836). Tratou-se de juntar os povos à volta do Pinhal.
Por razões desconhecidas, a Comissão Instaladora do novo concelho não foi imediatamente nomeada e viu-se desde cedo confrontada com forças de bloqueio muito importantes e algo poderosas, oriundas dos concelhos vizinhos de Leiria e Alcobaça, os quais não viram com bons olhos a redução do seu território. No caso concreto do lugar da Moita, o presidente Jacinto Gomes Trovão sofreu constante resistência das autoridades de Pataias às quais enviava constantemente ofícios, por vezes repetidos, solicitando a entrega da documentação e outros elementos respeitantes aos habitantes da Moita deslocados administrativamente para a Marinha. Pelo teor da correspondência constata-se existir um pólo de resistência organizado e proveniente da Câmara de Alcobaça.
Entretanto iniciaram-se em Lisboa os estudos da Novíssima Reforma Judiciária e do novo Código Administrativo, publicados respectivamente em 1841 e 1842. Esses estudos conduziram ao novo Decreto nº 93 de 17 de Abril de 1838 que extinguia inesperada e bruscamente o recém-criado concelho da Marinha Grande, sendo a Moita novamente anexada à Junta da Paróquia de Pataias depois de ter pertencido durante algum tempo à Paróquia de Maceira.
A Moita permaneceu integrada na Junta da Paróquia de Pataias, apesar da Junta de Paróquia da Marinha Grande ter enviado ao Rei, em 21 de Setembro de 1890, uma exposição solicitando a restauração do concelho com a inclusão da Moita e posteriormente se terem feito novas tentativas de pedidos ao Rei D. Carlos, sem obter resposta satisfatória. Após a implantação da República em1910, a Junta Paroquial Republicana da Marinha Grande através de múltiplos esforços tentou a restauração do concelho, constando de todas as suas diligências o pedido de inclusão da Moita (como se pode comprovar nas actas da Junta Paroquial).
A restauração do concelho da Marinha Grande verificou-se finalmente, por proposta do deputado Magalhães Godinho, aprovada no Congresso da República e publicada no Diário do Governo de 20 de Janeiro de 1917, I série, nº11, pela Lei nº 644, não englobando a Moita.
O sonho dos moitenses de voltar ao concelho da Marinha Grande nunca se desvaneceu e o século XX veio comprová-lo.
Os argumentos que fundamentavam esta vontade eram muitos e compreensíveis. Um dos principais era a distância e a dificuldade de acesso à sede do Concelho. A Moita estava a 25 km de Alcobaça, enquanto a Marinha Grande se encontra a escassos 5 km. Por outro lado, era na Marinha Grande, pólo industrial de grande importância, que a grande maioria da população Moitense tinha emprego. Este e outros factos também relevantes fizeram com que, pelo facto de não ter sido integrada no novo concelho em 1917, tenham surgido alguns movimentos tentando mudar para o Concelho da Marinha Grande, mas sem êxito.
A 4 de Outubro de 1985, a Moita tornou-se freguesia, através da Lei n.º114/85, publicado no Diário da República n.º229 - I Série.
A Freguesia com uma área de 8,4087 km2 é formada pelos lugares de Moita, Brejo de Água, Figueira de Gomes, Almoínha Velha e Vale.
A vontade de mudar de concelho foi sendo cada vez mais sentida pelos múltiplos problemas vividos diariamente pela população, que não aceitava a indiferença e estagnação a que os órgãos autárquicos municipais de Alcobaça a tinham conduzido.
A 4 de Dezembro de 1998, um grupo de Moitenses denominado "Amigos da Moita", reuniu com o propósito de organizar novo processo de mudança. O movimento propriamente dito, teve início em Janeiro de 1999, com a elaboração de um "dossier" que identificava a freguesia, assinalava as dificuldades da população e apresentava os argumentos para reivindicar a mudança de concelho.
O processo foi conduzido com o maior civismo tendo-se realizado um referendo a 10 de Outubro de 1999 que legitimou a intenção de mudança, onde se obteve uma votação esmagadora a favor do "sim” pela mudança para o concelho da Marinha Grande - 93% de votos favoráveis, numa adesão às urnas de 76% considerando o universo de 1116 eleitores. Foi uma vitória esmagadora que demonstrou de forma inequívoca o desejo da população na mudança.
O movimento reuniu um parecer favorável dos organismos concelhios da Marinha Grande e da Assembleia Municipal de Alcobaça, bem como dos vários partidos políticos, não tendo conseguido o parecer favorável da Câmara de Alcobaça, que, por quatro votos desfavoráveis contra três a favor, chumbou a pretensão de transferência de concelho. Este percalço não foi tido em conta pelo movimento, que pela mão do Deputado do PS, Dr. José Miguel Medeiros, viu em 4 de Maio de 2000, pelas 15H40, dar entrada na Mesa da Assembleia da República o Projecto-Lei, que foi aprovado "por unanimidade" em 19 de Abril de 2001.
Foi promulgado a 7 de Junho de 2001 e publicado no Diário da República a 12 de Julho de 2001, pela Lei nº28/2001.
A alegria da população não se fez esperar, 163 anos depois voltava às origens, e era preciso comemorar. No dia nove de Setembro de 2001, deu-se início pelas 10 horas às comemorações da integração da freguesia da Moita no concelho da Marinha Grande com uma recepção feita no Salão Nobre da Câmara Municipal, pelo Presidente Álvaro Órfão.
Com adereços em tons de amarelo e azul (azul da bandeira da Moita e amarelo da bandeira do Município Marinhense), foi recebida na Moita a pequena comitiva que contou com a presença do Governador Civil de Leiria, Carlos André, o Deputado Socialista José Miguel Medeiros, o Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, Álvaro Órfão, bem como os respectivos Vereadores, e ainda Hélder Ferreira, da Sub-Região de Saúde de Leiria. Do Município de Alcobaça, apenas na qualidade de amigo dos moitenses, compareceu Rui Coelho. Os moitenses foram-se associando e ao toque da fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande e da actuação das majoretes “Musas do Lis” de Vieira de Leiria, dirigiram-se ao Clube Desportivo Moitense onde cerca de quatrocentos moitenses e convidados marcaram presença no almoço volante e nas actuações de animação cultural que decorreram ao longo do dia, tendo culminado com fogo-de-artifício pelas 23 horas.
S. Silvestre manteve-se através dos tempos como padroeiro da Moita, sendo ainda hoje o seu Santo devoto, festejado no mês de Junho.
Terminamos (por agora) citando Jacques Le Goff:”Esta é uma História inacabada que é um acto completo de história”.
CURIOSIDADE!
O Sr. Joaquim Francisco Ribeiro, contava que, era ainda criança, quando uma comissão de moitenses se deslocou a Lisboa para falar com o Governo, com o objectivo de reivindicarem a mudança do concelho de Alcobaça para o concelho da Marinha Grande.
O movimento abortou porque houve quem mudasse de opinião.
Para manifestar o seu desagrado a população começou a chamar-lhe “feijão-frade” e fez uma quadra alusiva ao caso:
“Olha o feijão-frade
Que até faz azia
Foi a vergonha
Cá da nossa freguesia”
Geograficamente, a freguesia da Moita fica situada a sul da sede do concelho da Marinha Grande e a curta distância de grandes atracções turísticas como as praias da Nazaré, S. Martinho do Porto, Vieira de Leiria e outras, e ainda a poucos quilómetros de Leiria, Batalha, Alcobaça e Fátima, local de culto por excelência e onde podem ser visitadas nos maciços calcários envolventes, grutas de rara beleza, únicas no país