Na margem esquerda do rio Âncora, junto ao Atlântico , a cerca de dez quilómetros da vila de Caminha e a quinze da cidade de Viana do Castelo, situa-se a freguesia de Âncora.
O rio, reconhecidamente uma das belezas de toda a região, nasce a quinze quilómetros da foz, no lugar de Bezerreiras, a oitocentos e dezasseis metros de altitude e em plena Serra de Arga, estabelecendo os limites da freguesia pelo seu lado norte. São fronteira, do lado nascente as freguesias de Riba de Âncora e Freixieiro de Soutelo, a poente o oceano Atlântico e a sul a freguesia de Afife.
A ocupação do território de Âncora, remonta ao período pré-histórico. Na faixa litoral encontram-se alguns eixos quartzídicos que assinalam a presença de uma indústria lítica pré-histórica. No período da proto-história, do final da Idade do Bronze, existem vestígios "de uma cultura original fundamentalmente caracterizada pelo seu tipo peculiar de habitat em povoados fortificados em posições elevadas vulgarmente conhecidos pelo nome geral de castros, de onde deriva a sua designação tradicional de cultura castreja, que constituindo já um intenso foco de densidade humana, ocupa um lugar bem individualizado na proto-história peninsular". Este tipo de povoado fortificado, também designado por castro ou cividade, ocupa o alto do monte da cividade e conta, segundo Abel Viana "com vários níveis de ocupação, podendo ter chegado até à Idade Média".
A ocupação e reconversão deste território pelos romanos, aquando da conquista peninsular, leva ao cumprimento de um plano de urbanização. A reformulação das estruturas, substituindo as tradicionais, poderá ter ocorrido na época de Augusto, eventualmente nos principios da era cristã, como o demonstram vestígios da cultura romana, como fragmentos de ânforas, tégulas e ímbricas, mós circulares, fíbulas, vidros, moedas e a base de uma coluna romana.
O povoamento contínuo desta localidade é atestado pelos inúmeros vestígios e monumentos que foram legados ao longo dos tempos, como é o caso da Cividade e do Forte do Cão.
Contudo, há dificuldades em determinar a origem da paróquia. Assim e, segundo Francisco Cardoso de Azevedo, "a parochia já existia no século VI com a denominação de Santa Maria de Villar de Ancora". Esta designação de Santa Maria de Vilar de Ancora volta a surgir num texto do Padre António Carvalho da Costa, que no ano de 1868 refere: "Santa Maria de Ancora chamou-se antigamente de Villar de Ancora, por hum Castello, que teve de Mouros (...)". Esta referência indica-nos que a existência desta freguesia vem desde os primórdios da nacionalidade.
Em 1 de Janeiro de 569, os prelados a pedido do Rei Suevo Teodomiro, reúnem-se no Concílio de Lugo, passando o território entre Lima e Minho a pertencer à diocese de Tui com dezassete paróquias. A 1 de Dezembro de 1156, Afonso VII, rei de Castela e de Leão, com o assentimento de D. Afonso Henriques, confirmou a divisão das Igrejas e arcediagos do bispado de Tui, feita entre o bispo D. Isidoro e seu Cabido. Neste documento, um dos arcediagos é designado por "terra marítima" que incluía Santa Maria de Âncora e Santa Maria de Villar de Âncora. Nas inquirições de 1258 mandadas proceder por D. Afonso III, a referência a Âncora faz-se através do nome de Baltasares, fazendo também menção aos casais que o rei nela possuía, qual a situação económica e quais as culturas agrícolas efectuadas na paróquia e ainda os direitos que os paroquianos pagavam ao Rei D. Afonso III. Após a concessão de foral à terra de Viana no ano de 1258, cria o futuro concelho que se situava entre os rios Lima e Âncora e pretende ser o padroeiro da sua Igreja. Para tal, acorda a transferência desse padroado com D. Gil, bispo de Tui e seu cabido e, compensa-o com casais em Afife, Vila Meã, Baltasares e Sá. Seriam estes casais em Baltasares, os referidos como ermos nas inquirições de 1258.
Com o Rei D. Dinis, no ano de 1320, foi elaborado um rol das freguesias situadas no território português, pertencentes à Sé de Tui para apuramento da taxa a pagar ao rei pelos benefícios eclesiásticos do bispado de Tui, sendo atribuída a Santa Maria de Âncora a taxa de 80 libras. Pela mesma época, no Censual do Cabido de Tui para o arcediagado da terra da vinha, datado de 13 de Junho de 1321, refere-se: "A Iglésia de Sancta Maria de Âncora há de dar hum anno por ençensoria ao cabidoo de pan çinco teeygas de trigo, mea libra de çera e há procuraçom".
Em consequência do Cisma do Ocidente, a Comarca de Valença separa-se de Tui em 1381, passando no ano de 1456 o padroado da Igreja de Âncora para o mosteiro de Cabanas. Esta informação é comprovada por um documento existente no arquivo do Mosteiro de São João de Cabanas, na Freguesia de Afife, onde consta que a Igreja de Santa Maria de Âncora era primitivamente da apresentação do bispo de Tui, que no ano de 1456 ficou anexada ao dito convento por consentimento do seu abade.
Nas memórias paroquiais de 1758, a aldeia aparece referida no seguinte modo: "está esta freguezia situada em huma ribeira chamada a ribeira de Ancora, cercada de montes altos pella parte do naçente, norte e sul e do poente confinna com o mar, della se descobrem as freguezias seguintes, Santa Marinhas de Gontinhais, Sam Sebastiam de Ville, Santa Maria de Riba de Ancora, Sam Martinho de Freixieiro e Sam Pedro de Soutello e, com todas estas confinna pella parte do naçente e norte, excepto com a de Sam Sebastiam de Ville que suposto fica mais perto que outras nem chega a confinar com esta". Porém, nos Inquéritos Paroquiais de 1755 e 1825, do Distrito de Viana do Castelo, pode ler-se "Paroquial Igreja de Santa Maria de Âncora Baltasares".
A maior alteração política da paróquia dá-se no ano de 1836, pois o Decreto da Reorganização Administrativa do Reino, altera o concelho de Viana. Este vai ser acrescido com várias freguesias do antigo concelho de Barcelos, perdendo apenas a freguesia de Âncora para o concelho de Caminha.
O mar, o rio, a veiga e a serra, predeterminaram, desde tempos imemoriais, o modo de vida dos ancorenses. A ocupação humana estava relacionada com os contrastes naturais, a produtividade do solo e os meios de água essenciais ao lavradio e à alimentação. A água foi um factor de tal modo importante na definição do ecossistema minhoto, que determinou o aparecimento de aperfeiçoados sistemas de rega para o seu aproveitamento, que abundava no Inverno e Primavera, mas escasseava no estio e permitia a utilização permanente de terrenos, assegurando o cereal de pão de maior rendimento e, ao mesmo tempo, a horta e o prado.
O trabalho da terra era a principal fonte de rendimento desta comunidade rural. Cultivavam-se produtos como: milho, centeio, trigo e vinho. A necessidade do aproveitamento máximo das potencialidades de exíguas parcelas de terreno, fez com que o milho fosse "a fórmula precoce e eficaz de revolução agricola" devido à sua elevada produção relativamente ao centeio e ao trigo.
Embora o peso hegemónico do sector agrícola fosse elevado, a sua fraca produtividade referida nas Memórias Paroquiais de 1758, fez com que houvesse necessidade de um conjunto de ofícios complementares que permitissem o aumento do património familiar, permitindo a subsistência do grupo doméstico e, ao mesmo tempo, tornar rentável a produtividade da casa, cujas propriedades fragmentadas e parcelas, nem sempre eram viáveis economicamente. Deste modo, com a saída dos elementos masculinos da família, cabia às mulheres o protagonismo laboral na exploração agrícola e à frente da casa.
Na primeira metade do século XIX, as ocupações dos ancorenses centravam-se na dedicação à agricultura, mas a indisponibilidade do espaço agrícola, já suficientemente fragmentado por uma população em crescimento, levou à necessidade de criar uma via profissional alternativa, a via do ofício.
No que toca ao património, a freguesia de Âncora tem alguns marcos importantes na sua história. Marcos esses, de elevado carisma histórico, religioso, cultural, artístico e arquitectónico. Na divisão de Âncora com Afife, no alto do monte da Terrugem, encontra-se a Cividade e na Espiga permanece uma anta dos tempos pré-históricos. Banhado pelo oceano Atlântico, encontra-se o Forte do Cão edificado durante o período da Guerra da Restauração, no ano de 1690, sob ordem de D. Pedro II. É uma construção militar defensiva.
No lugar da Aspra, fica a Ponte de Abadim, lançada sobre o rio Âncora e construída no ano de 1608, no reinado dos Filipes. No lugar da Igreja, encontra-se a Ponte da Torre, que em tempos passados, era a única ligação existente para a Estrada Real. Ainda no rio Âncora, encontra-se a Ponte do Enchão, reconstruída no ano de 2011 depois de anos ao abandono e tombada sobre o leito do rio.
Também em Âncora, no caminho de ferro, existia a Ponte Eiffel, projectada e construída no ano de 1879 por Gustave Eiffel e sua empresa. Ponte que foi desactivada e hipoteticamente vendida a preço simbólico e que muitos ancorenses recordam com saudade.
De grande impacto sócio-económico para os nossos antepassados, existem também na freguesia, alguns moinhos, há muito desactivados, mas que eram um marco e um meio de subsistência de muitas famílias ancorenses. Destacamos, o moinho da cegonha e o moinho do paço.
Merece especial referência, o Pinhal da Gelfa, que se encontra debruçado sobre as praias, o oceano e o rio. Devido à pureza dos seus ares, do seu ambiente sereno e do envolvimento natural, nele instalou-se, em terrenos cedidos pela freguesia, um sanatório marítimo pertencente à Assistência Nacional aos Tuberculosos e posteriormente cedido e transformado num hospital psiquiátrico.
No capítulo da monumentalidade religiosa, justificam ainda nota, a Capela de Santa Luzia, a Capela da Trindade, a Capela do Socorro, a Capela de Santo Adrião que se encontra em ruínas, a Capela de Santo António, a Capela de Nossa Senhora dos Desamparados, e ainda um elevado número de alminhas, nichos e cruzeiros.
Do passado recente, mais propriamente do tempo próspero dos grandes senhores do minho, guardam-se convidativas as quintas existentes na freguesia de Âncora. São elas: a Quinta da Boavista, a Quinta da Trindade e a Quinta do Paço.
Sendo a mobilidade um factor de desenvolvimento decisivo, há que considerar necessariamente as acessibilidades que servem a freguesia, a E.N. 13 e a E.N. 305. Bem próximo, temos ainda uma ligação à A28.
Quanto à rede escolar da freguesia, engloba o ensino pré-primário no Jardim de Infância de Âncora e o ensino básico do 1.º ciclo, na E.B.1. Alunos do 2.º e 3.º ciclos frequentam as escolas existentes na freguesia de Vila Praia de Âncora, a 1 km de distância.
No que respeita às áreas da cultura, lazer e desporto, os habitantes da freguesia tem ao seu dispor duas associações. A Sociedade de Instrução e Recreio Ancorense (S.I.R.A.), com escola de danças de salão, teatro, grupo de cantares tradicionais, salão de baile, entre outros e o Centro Cultural e Desportivo Ancorense (C.C.D.A.).
Na freguesia de Âncora podem-se também encontrar, dois parques de campismo: o Parque de Campismo Sereira da Gelfa e o Parque de Campismo do Paço, ambos com diversas valências; a Casa da Torre que é um espaço de Turismo Rural e diversos restaurantes.