CHICOLATEIRA
De acordo com a definição do dicionário - "Vaso para ferver água" - trata-se de uma peça em cerâmica muito utilizada pelos nossos antepassados para fazer o café que tomavam diariamente.
O hábito seria de tal ordem que o povo de Sobrosa era frequentemente conhecido por "chicolateiros", designação que ainda subsiste.
Apesar de não haver provas documentais nem uma explicação para a antiguidade deste hábito social na freguesia, o certo é que, em meados do século
passado, rara era a casa que não possuía esta peça, e em muitos casos cumpria-se religiosamente o ritual de parar a meio da tarde para tomar um delicioso café com broa.
A palavra "chicolateira", provavelmente relacionada com "chicória", não deve ser confundida com "chocolateira", associada a "chocolate".
É com orgulho que o povo de Sobrosa assume ser "chicolateiro", usando esta peça como principal imagem identitária desta Vila.
LENDA DO CRUZEIRO DE GUINDO
Os cruzeiros emergem isolados, ao longo dos caminhos, nas encruzilhadas, nos adros, no cimo dos montes, ou surgem agrupados, com significado sequencial, evocando as catorze Estações da Paixão de Cristo ou, ainda, para assinalar a Fundação e a Restauração da Independência de Portugal, resultado da campanha lançada pelo Monsenhor Moreira das Neves, em 1940.
Do ponto de vista arquitetónico apresentam ótimos trabalhos em granito, visíveis no afeiçoamento dos elementos que o compõem, bem como nalguns motivos decorativos.
Os cruzeiros são, ainda, fontes de informação para o estudo das crenças e costumes locais, como é o caso do Cruzeiro de Guindo, na freguesia de Sobrosa.
Este cruzeiro situa-se no cimo de um promontório com 334 metros de altitude, assente sobre um afloramento granítico, a partir do qual é possível ter um domínio visual de excelência sobre o povoamento de Sobrosa, mas, também, com alcance de longa distância. A sua base cúbica está colocada no ponto mais elevado do penedo, a partir da qual se eleva a coluna rematada por um capitel, encimado por uma cruz latina decorada por caneluras longitudinais e pontas boleadas.
Porquê construído neste local, isolado e de difícil acesso?
A explicação para a construção deste cruzeiro está associada a uma lenda, suportada nalgumas particularidades que o caracterizam e não são objetivamente explicáveis.
Deste modo, a tradição local conta que:
Certo dia, andando um cavaleiro por aqueles lados, viu-se confrontado com o seu cavalo em fúria. Perante aflição extrema, invocou a proteção divina, prometendo edificar um monumento no preciso local onde o cavalo se detivesse. E assim aconteceu. O cavalo acalmou e o cavaleiro em cumprimento do prometido construiu naquele local um cruzeiro, e para assinalar o acontecimento gravou na base cúbica a inscrição “DOMI LADRE”, que se presume significar “DO MILAGRE”, acrescentando o ano de 1594.
Uma outra particularidade é o facto da cruz, com cerca de 1 metro, encontrar-se inclinada sem cair e as pessoas não a terem conhecido doutra forma, apesar de, pontualmente, afirmarem que foi atingida por um raio, num dia de tempestade.
Infortunadamente, passados 420 anos, a 4 de janeiro de 2014, o cruzeiro foi destruído por uma tempestade. Porém, a sua importância cultural e a força da tradição local, o cruzeiro de Guindo foi reerguido no dia 14 de março de 2019, mantendo-se a inclinação da cruz.
O cruzeiro de Guindo é um dos cruzeiros mais antigos do concelho de Paredes.
Novembro de 2021
Maria Antónia Silva
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