Era incalculável o valor (imaterial) do imóvel que, para além das vertentes arquitectónica, cultural e social, tinha o previlégio de ser a única construção existente em toda a área concelhia (e não só), edificada com pedra de Eirol. Por tal facto, quando foram feitas as partilhas entre os herdeiros do falecido Dr. José Tavares, de saudosa memória e se soube quem eram os novos proprietários do imóvel, a Junta de Freguesia do Bunheiro em colaboração com a Câmara Municipal da Murtosa, tentaram adquiri-lo para que o mesmo fosse preservado e, eventualmente, reconvertido para uma utilização pública.
O acordo, relativamente à aquisição, não foi alcançado pois o valor pretendido para a transacção estava fora dos limites julgados razoáveis pela parte compradora.
Face ao exposto, a Junta de Freguesia do Bunheiro tentou evitar o desaparecimento do imóvel, quer por demolição, quer por ruína, facto que era evidente se não houvesse entretanto uma intervenção de limpeza da vegetação e consolidação de alguns elementos mais fragilizados.
Foi pois o que pretendeu ver feito ao propor que o imóvel fosse classificado como “Imóvel de Interesse Municipal”, classificação essa que omplicaria esses trabalhos de consolidação.
O “perigo de ruína” sempre foi a desajustada arma usada contra a nossa pretensão. Nós queríamos eliminar o perigo, através da conservando e consolidação do imóvel, enquanto que os proprietários queriam eliminar o perigo pela demolição do próprio imóvel. As pretenções eram distintas, os desejos eram antagónicos.
Por ordem dos proprietários o “Sobrado Vermelho” desapareceu, tal como havíamos pressagiado numa notícia anterior aqui publicada em Agosto último.
Os trabalhos, iniciaram-se logo pela manhã de sábado pois, cerca das 08H30, recebemos o primeiro telefonema a dar conta da “operação” em curso. Aquele dia de sábado foi, para nós, muito triste, embora o destino daquele imóvel estivesse prognosticado.
Apraz-nos registar aqui algumas palavras recebidas que mostram que nós não estávamos sozinhos nesta “luta” por aquele ideal. De facto, várias pessoas mais despertas para o caso nos deram conta do sucedido e nos apresentaram o seu lamento. O sol, também se associou a nossa dor, não oferecendo a sua luz e o seu calor àquele dia, que foi triste e sombrio de manhã à noite.


Assim jaz o "Sobrado Vermelho"