A origem de Penela da Beira remonta a
épocas antiquíssimas, o que se pode verificar pela presença de
numerosos dólmens, nomeadamente pela maior necrópole megalítica do
concelho e pelos diversos vestígios romanos, espalhados um pouco por
toda a freguesia (pedaços de Cerâmica, lagaretas, mós).
No século X estas terras integravam a Estremadura e devem de ter sido
possessão da célebre D. Flâmula ou chama que, em 960, as concedeu ao
Mosteiro vimaranense. Uma das “penelas” (diminutivo medieval de “pena”,
pequeno castelo roqueiro) cedidas deve ter sido este que, na época, não
possuía nome especial, designando-se, pois, por este apelativo comum.
Fernando I, o Magno, rei leonês, em meados do século XI, libertou este
território, em poder dos mouros desde finais do século anterior. Assim,
este monarca, estre 1055 e 1065, concedeu foral a Penela da Beira, que
é um documento valiosíssimo, quer pelo seu conteúdo, quer pelo facto de
ter sido o primeiro foral concedido a terras portuguesas. O município
que daí adveio é, a par de Paredes e Pesqueira, o mais antigo de
Portugal.
D. Afonso Henriques confirmou este foral:
“Em nome do Pai, do filho e do Espirito Santo, Amem.
Eu, Infante D. Afonso (Henriques), de boa memória, neto do grande
Afonso (VI) imperador de Espanha, e filho do Conde D .Henrique e da
rainha D. Teresa, desejando justiça e querendo seguir a memória e “Em
nome do Pai, do filho e do Espírito Santo, Amem.
Eu, Infante D. Afonso (Henriques), de boa memória, neto do grande
Afonso (VI) imperador de Espanha, e filho de Conde D. Henriques e da
rainha D. Teresa, desejando justiça e querendo seguir a memória e
preconceitos dos meus antepassados, isto é, do rei D: Fernando (o
Magno) e de seu filho Afonso (VI) (...) Na verdade, essa justiça e
foral, que meu bisavô – rei D. Fernando – deu a São João da Pesqueira,
Penela, Paredes, Linhares e Ansiães, foi sem dúvida, o foral (...) pelo
qual foram povoados. Ora, esse foral (...) concedo-o e confirmo-o,
perpetuamente, aos meus castelos e que se cumpra pelo século dos
séculos. (...)”.
A
mesma confirmação deu D. Sancho I e, mais tarde, D. Afonso II, em
Outubro de 1217. Nos inícios do século XVI, D. Manuel concedeu-lhe
foral novo, que se encontra no arquivo nacional da Torre do Tombo, no
livro dos Forais Novos da Beira (fol. 48).
No tempo do reinado de D. Sancho II, D. Abril Peres de Lumiares, neto
de D. Afonso I e bisneto de Egas Moniz, aproveitou as desordens
administrativas existentes para receber terras do concelho de Penela.
Tratava-se do Vale de Carvalho e, de acordo com as inquirições de D.
Dinis, abril Peres “fez aí uma aldeia, e desde então trouxeram por
honra, que não entra aí o mordomo de el-rei, nem peitam voz nem coima”,
ou seja o lugar, mais do que honra vulgar, era um couto.
No século XV, esta terra passou XVIII, para os Marqueses de Marialva.
A mesma cobiça de D. Abril Peres foi manisfestada pelo Bispo de Lamego,
D. Paio, que também obteve terras do dito concelho. Pensa-se que no
século XIII, já existia a paróquia, que se estendia aos actuais lugares
de Póvoa e Valongo. No século XVI, estes lugares eram simples
capelanias que ficaram anexas à matriz, isto é a Penela.
No
século XVIII, o pároco da freguesia detinha o título de Vigário que, em
1758, passou a reitoria, apresentada pela Universidade.
Penela foi concelho até meados do século XIX, altura em que passou a
pertencer ao concelho de Trevões que, por sua vez foi extinto a 24 de
Outubro de 1855. A partir de então, passou a integrar o concelho de
Penedono, até à sua extinção, em 7 de Setembro de 1855, sendo depois
anexada ao de S. João da Pesqueira. A 13 de Janeiro de 1898, o concelho
de Penedono foi restaurado e Penela passou a integrá-lo, situação que,
ainda hoje, se mantém.
Esta freguesia do distrito de Viseu detém um leque de lendas que foram
sendo transmitidas de geração em geração, destacando-se a Lenda da
Senhora do Monte e a Lenda de Santo Tirso.
Lenda da Senhora do Monte
Nos
finais do século XIX, ardeu a Capela de Nossa senhora do Monte e,
segundo a lenda, quando a capela ardeu, a imagem de Nossa Senhora do
Monte foi trazida para a Igreja Paroquial e, por várias vezes,
regressou, pelos seus próprios meios, à capela.
Essa imagem
encontra-se agora na Capela do Mártir São Sebastião, não tendo sido
restaurada, pelo que está chamuscada e tem uma das mãos queimadas.
Lenda de Santo Tirso
Capela de santo Tirso,
A mais antiga da Povoação,
Data dos tempos dos Mouros,
Dos primórdios da Nação.
Capela de Santo Tirso,
A mais antiga da Povoação,
Data dos tempos dos Mouros,
Dos primórdios da Nação.
Uma lenda muito antiga,
Deste Santo, já falava,
E vou tentar descrever,
O que nela se contava.
Andava um dia um baile,
Só de Mouros e Judeus,
E cometeram um pecado,
Fazendo um milagre, Deus.
Na casa onde dançavam,
Uma cristã trabalhava,
E para aquelas infiéis,
Todos o dia cozinhava.
Num enorme caldeirão.
Água , a aquecer tentava,
Muita lenha ali queimou,
Mas a água fria estava
O fogo partia as pedras,
Que naquela lareira havia,
Enquanto a água ao lume,
Mais gelava e não fervia.
Foram sete carros de lenha,
que a criada ali queimou,
Mas a água não fervia,
E um Judeu lhe gritou.
Então maldita criada.
Essa água não aquece?
Com tanto fogo debaixo,
Não sei o que acontece.
Meteu a mão naquela água,
que estava fria e gelada,
Os Judeus que a espiavam
Rompem em gargalhada.
Com a mão no caldeirão,
Remexeu a água fria,
E viu, a Cruz de Cristo dourada,
Que no fundo da água jazia.
A Cruz de Cristo tirou,
E um milagre se deu,
Aquela água tão fria,
Com a grande energia ferveu.
Com a força do ferver,
Toda água saltou fora,
O que aconteceu aos judeus,
Eu vou-lhes contar agora:
Foram presos derrotados,
Cada um p'ra seu lugar,
Mas passados muitos anos,
Se voltaram a juntar.
Foram juntos num só dia,
Numa escura prisão,
Mas nenhum se conhecia,
Nem mesmo o próprio irmão.
Um dia no desespero,
Estando quasi a morrer,
Rogou a Santo Tirso,
Que lhe viesse valer.
A que Santo Tirso pedes?
Que te livre da prisão?
Perguntou-lhe um dos presos,
Que era seu próprio irmão.
Santo Tirso de Penela Vedra,
Só ele me pode valer,
Que eu veja meus amigos,
Antes de aqui morrer.
Penela Vedra é minha Terra,
Terra, onde eu fui nascido,
Há muito que a não vejo,
Por um pecado cometido.
Outros, que os ouviram falar,
Como amigos procederam,
Chamaram-se pelos nomes,
E assim se reconheceram.
Não sei se será uma lenda,
Ou se teria acontecido,
Mas escutem-me também,
O que a seguir vos digo.
A casa foi cenário,
desta simples narração
Existe bem conservada,
No centro da povoação.
Tem sacadas e janelas,
E tem largos beirais,
Não tem ninhos de andorinhas,
Nem lá criam os pardais.
Durante a primavera,
Cada beiral tem o seu ninho,
Nesta casa nunca que viu,
O de qualquer passarinho.
Esta Lenda é verdadeira,
E não é invenção minha,
E nessa casa ninguém viu,
Qualquer ninho andorinha.
Esta lenda, ou narrativa,
Que eu acabo de contar,
Foi ouvida a uma velhinha,
Numa noite de luar
É uma lenda muito antiga,
Uma lenda como as demais,
Que passam de boca em boca,
São lendas tradicionais.
Dou por finda esta história,
Escrita tão toscamente,
Passada a minha aldeia,
Que eu amo loucamente.
Serafim de Jesus Pinto (Extraída do Boletim Municipal, nº16, Abril de 1988)